terça-feira, 23 de julho de 2013

O Cúmplice e o Assassino - Capítulo 3


3 
Valéria decidiu desabafar. 
       – Eu sei que nosso relacionamento é muito recente, mas é que, não é fácil ficar longe de você. Você viaja muito Rick. Fico em casa pensando em você o tempo todo. 
        – É, mas quando eu penso em te ver, você sempre está ocupada com as coisas da escola. 
        – Vejo que a nossa paixão profissional é maior que a paixão entre a gente... 
        – Não é bem assim, meu bem – disse ele, dócil. 
        – Rick, acho que a nossa hora chegou – falou Valéria, que estava inquietamente triste, mas decidida. – Não quero te atrapalhar e não quero ser atrapalhada, profissionalmente falando, entende? – Ele assentiu. – E outra: você tem que fazer aquela viagem para Lisboa, não posso interferir... 
        Após algumas horas de conversa, os dois tomaram uma difícil decisão: separar-se. 
        Valéria, naqueles tempos, achava que Ricardo era o amor da vida dela. Ela o amava e ele também a amava, mas a vida profissional atrapalhava muito. Ela ficava pensando nisso todas as noites. Quando ia dormir, sonhava com seu futuro casamento, e com sua possível gravidez. Ela queria ter um filho com ele. Ela estava decidida, mas achou melhor separar-se antes que isso acontecesse. Rick viajava muito, e ela não queria que seu filho crescesse com a ausência do pai. 
        Ricardo fora para Lisboa, a negócios. Tudo é “negócios”. Tudo é dinheiro – pensava Valéria. E até hoje, ele não voltara. Mandara notícias uma única vez. – Ele me esqueceu – dizia Valéria para si mesma, mas logo se conformava, pois fora ela quem terminara. Foi ela quem não quis arriscar o verdadeiro amor. Agora, de noite em sua cama, ele é o único homem, que de vez em quando, a visita em seus sonhos. A paixão ainda não se apagara, mas ia morrendo conforme o tempo passava. Para Valéria, a separação fora muito difícil no começo, mas estava certa de que tudo iria melhorar. E, como sempre, sua vida tomaria o rumo correto... E assim foi. 
        Antes de dormir, a frase da pequena criança ecoava em sua mente: “Ah, professora, um filhinho. Um amiguinho pra gente brincar. Faz um”, aquilo estava a deixando louca. Não sabia o motivo. Uma vontade a consumia. Um filho? 
        Valéria contemplou mais um pouco a janela escura, que de repente ficara muito clara. Seus olhos doíam. Nossa! Já amanheceu? Ela nem ao menos sabia se tinha dormido. Ainda estava cansada. 
Levantou-se e foi escovar os dentes. Passou a mão sobre o rosto, e na extremidade de cada olho encontrara a resposta se havia dormido ou não. Seus olhos estavam com um pouco de remela, o que raramente acontecia. Ela ficou se olhando no espelho do banheiro por um bom tempo. Encarando-a. Sua mente estava dispersa, tanto que só foi ouvir seu telefone tocar na segunda chamada. Quase num pulo ela saiu do banheiro. Atendeu. 
        – Alô? 
        A outra pessoa respondeu com um “tudo bem?”. O coração dela congelou. Conhecia perfeitamente aquela voz. Linda, perfeita. O silêncio continuou no ambiente. Valéria sentou-se violentamente no seu sofá vermelho. E depois de a pessoa perguntar novamente se ela estava bem, quase num sussurro ela respondeu com uma pergunta. 
        – É você? – esperava há muito tempo por essa ligação. O sangue dela percorria seu corpo de forma assustadora. – Rick, é você? 
        – Sim, meu bem. Como está?

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