quarta-feira, 31 de julho de 2013

O Cúmplice e o Assassino - Capítulo 8

8
August pegou a carta, no remetente lia-se o nome de Valéria. “Valéria!”, exclamou August parado na porta. “Quanto tempo! Não falo com ela há muitos anos”.
       – Pois é! – concordou a senhora.
       – Abeline, guarde-a para mim, eu tomarei o meu banho e logo após abrirei, está bem?
       – Sim, mas não demore muito senhor, eu estou curiosíssima quanto a isso – e chacoalhou a carta. Seus olhos brilhavam de vontade de abri-la, mas não podia. Se bem que ele não iria se importar, mas por questão de educação preferiu guardá-la e mostrar a ele primeiro. Lógico.
       August entrou em sua banheira, transbordando de espuma. Sua empregada sempre acertava na quantidade de sabonete líquido e na temperatura. Ali era o seu único cantinho para relaxar, nem seu quarto servia mais para isso, pois lá tinha o seu notebook, e era como se o objeto tivesse uma força magnética que o puxava para trabalhar. August gostava de seu banheiro, sentia-se em paz.
       A notícia de Abeline fez seu coração pulsar mais rápido, de surpresa e de preocupação. “Será que aconteceu algo de ruim com Valéria? Por que ela me escreveu assim, do nada?”, imaginava ele. Por alguns instantes pensou em deixar o banho de lado e ir correndo ler a carta, mas uma vozinha vinda de sua cabeça o orientou que terminasse o banho, e que não era nada de assombroso. Simplesmente notícias de como ela estava.
       Quando Abeline entrou na cozinha, seu lugar preferido, colocou a carta em cima da mesa, com um cuidado exagerado, e aguardou o seu patrão terminar o banho. Ela não conhecia Valéria pessoalmente, só ouvia August falando dela, mas era só de vez em quando, até parecia que eram brigados, que existia um muro, uma barreira entre os dois, quer dizer, os três, pois a sua outra irmã também não dava notícias, mas essa Abeline conhecia, pois morava perto, não tão perto, mas às vezes ela ia visitar o seu velho irmão. Nenhum deles ligava, nenhum escrevia, às vezes mandavam um cartão de Natal, mas tenha dó, mandar um cartão desejando um Feliz Natal é legal, mas não é caloroso, não é tão humano.
       Por fim, August conseguiu relaxar um pouco mais, o banho o obrigava a isso. E era bom. Ficou ali por mais de meia hora, o que parecia um dia para Abeline. August bem que tentou esquecer a carta, mas era impossível. Pegou seu roupão e saiu de seu invejável banheiro, que era mais luxuoso do que de um hotel cinco estrelas, por ser tão rico em detalhes...
       August entrou em seu closet e se vestiu, estava muito formal para estar em casa, mas ele não ligava, estava tão acostumado com isso que era automático. Dava a impressão de que ele iria trabalhar, ou teria um encontro com empresários para tratar de negócios. Quando ele desceu para o salão principal a sua empregada já estava a sua espera. Com a mesma curiosidade. “O senhor demorou”, disse ela.
       – Não fique me acelerando Abeline. Estou tão curioso quanto você, simplesmente tive um dia cheio e precisava relaxar. – Abeline o olhou e pediu desculpas, e em troca ele sorriu. – Pois então, vamos ao que interessa, não é mesmo?
       – Sim – respondeu ela, prontamente. Já com o envelope em sua mão, as pontas de seus dedos suavam. Ela estava feliz por alguém ter se lembrado de August, ele precisava de companhia, precisava de amor familiar, pois ele só pensava em trabalho, trabalho e trabalho. Ela ficava um tanto preocupada com seu amigo-chefe. Gostava muito dele. Queria o ver feliz.
       August pegou a carta, seu coração pareceu dar um pulo. Ficou aéreo por alguns segundos. Num pequeno fragmento de lembranças estava Fabiano. Bem que poderia receber uma carta dele também. August nunca o esquecera. Será que ele está bem? Onde se encontra? O que anda fazendo? Ele não sabia. Fabiano sumira. August logo voltou ao seu estado normal, era a carta de sua irmã, tinha que se concentrar nela. Como ela estaria também? Qual o motivo para escrever? Abriu o envelope e desdobrou a carta. A caligrafia era muito bonita. Ele deu uma passada de olho por ela toda. E notou que alguns traços nas letras eram iguaizinhos ainda, desde quando ela era criança. Letras miúdas, mas bem feitas.
       Abeline disse para o seu patrão se sentar, e chegou mais perto dele. Ficou ao seu lado e pediu que ele lesse em voz alta. August, fitando-a de rabo-de-olho, começou ler a carta. Ele desconsiderou o cabeçalho com data, já partiu para as palavras dela e, conforme ia lendo, recordava-se de sua voz, quando ainda era moça.

       "Olá, querido irmão!
       Como andam as coisas por aí? Tudo bem com você?
Quando comecei escrever esta carta já imaginei com que cara você a leria, e antes de qualquer coisa, quero te avisar que não aconteceu nada de ruim comigo."

O Sr. August e sua empregada suspiraram aliviados, os batimentos foram minguando aos poucos. Ele olhou para Abeline. "Ainda bem que não é nada grave", falou. E continuou a leitura.

"Estou bem, mas não tão bem assim, claro, pois eu perdi uma pessoa que eu amava muito. Uma mistura de dor e alegria é o que estou sentindo agora. Dor e vazio, pela morte de Rick, o homem que eu amava de verdade.
E sinto-me, ao mesmo tempo, alegre, pois eu e ele iríamos ter um filho, mas como isso não foi possível, eu adotei uma criança. Não é demais?! E essa foi a principal motivação que tive para lhe escrever. Queria compartilhar com você. Estou feliz, posso dizer.
Gu, desculpe-me por não te escrever há muito tempo. Eu sei que você é um homem muito ocupado, não queria incomodá-lo. E aproveitando, parabéns pelo seu sucesso, me orgulho muito de você!
Não prometo te encher de cartas, mas mandarei notícias de vez em quando. Gostaria de saber o endereço da nossa irmã para lhe mandar uma carta também, pois eu perdi. Mande um beijo quando a ver. E fale que estou com muitas saudades dela também.
Ah! E não posso me esquecer de tirar um sarrinho de você. Te vi numa foto daquela revista conhecida que fala de economia, você já está quase sem cabelos. Eu ri, mas recortei e guardei para mim.
       Bom, então é isso, espero que me responda em breve. E me mande o endereço da Isa.
Sei que próximo mês é o seu aniversário, então, antecipadamente, aqui vão os meus singelos e calorosos Parabéns! Que você continue sendo um homem muito feliz e que o sucesso sempre ande ao seu lado! Pois você merece tudo de bom que a vida tem a oferecer! Muitos anos de vida! Saúde e Paz!

       Um grande beijo, Deus te abençoe sempre!

       Sua irmã, Val."

       August ficou emocionado com a carta. Abeline já estava no choro, limpando suas lágrimas com um pequeno lenço. “Que bom, ela está se recuperando da perda de seu marido, isso é muito difícil”, disse ela. August assentiu com a cabeça, ficou calado por alguns minutos e lembrou-se da época em que Abeline perdera seu marido, ela sabia o que era isso.

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